sábado, outubro 30, 2004

O oposto da pressão

Continuo a achar que o caso Marcelo se deve unicamente á falta de uma oposição credível. Marcelo comentava na Tvi os casos que lhe pareciam relevantes, o que lhe terá merecido alguns rancores intra-partidários, visto que o critério de selecção era altamente subjectivo, a juntar a isto vem que o que era já óbvio para toda a gente , era o único espaço de opinião onde os comentários sistemáticos á inacção governativa , e note-se que a maior parte versava sobre reparos ou correcções a medidas tomadas pelo executivo e nunca numa oposição clara ás suas posições , eram absorvidos e corrobados por uma significativa audiência. Ora , isto em si não é uma oposição ,poderá no máximo ser uma confrontação á viabilidade da orgânica governamental pelo que todo este debate se torna pretensioso , mais uma vez por culpa da inexistente oposição que revela aqui a sua debilidade ao rebocar-se numa questão de foro interno fazendo-a passar por um problema gravíssimo de atentado a liberdade de expressão. Seria de facto gritante se algum dia chegassemos a esse ponto, mas é na conduta do próprio Marcelo que se apoia a tese de toda esta hipérbole. Qual seria o primeiro a denunciar e a calar esse absurdo abuso da liberdade de expressão senão o próprio Marcelo, aquele em todas as semanas , e que de domingo a domingo personificava o primeiro defensor dos portugueses, nem que isso lhe custasse o desprezo e a traição ao seu próprio partido e colegas militantes? Marcelo pagou o que o senso comum ditou , e para os sensatos isto é por demais claro. Como confiar num executivo se um dos seus principais lideres e até há bem pouco tempo seu secretário geral está continuamente , bem ou mal , a "chumbar" todas as acções do governo ? Não existe uma oposição para isso ? É que se houvesse uma oposição, talvez por confrontação de ideias se percebesse que de facto Marcelo não era um opositor, mas sim um comentador , o que álias justificava o seu espaço meramente opinativo na dita estação televisiva. Não me parece de todo improvável que elementos do PSD tenham abordado Marcelo para o tentar obviamente refrear, não no teor nem no conteúdo dos seus comentários mas sim obstar a que estes pudessem ser interpretados como uma oposição, que na verdade Marcelo sempre negou ser, e bem , porque um comentador deve ser neutro. A recepção , ou o pedido de esclarecimentos do nosso Presidente da Republica justifica-se inteiramente , pois demonstra atenção e preocupação pelos valores do País , não se justifica que uma oposição atolada não se sabe ainda em que pântano , talvez mais um legado do eng. Guterres, venha tentar obter dividendos sob falsas premissas. Não vejo aqui "pressão" nenhuma , vejo bom senso , numa tentativa de não confundir mais as coisas. A dita "pressão" vem da ausente oposição , sedenta de pretextos para se opor ao que não tem ou apresenta soluções.