domingo, maio 28, 2006

Trabalhar faz Mal* (1)


Faço parte de duas estatísticas: professores no desemprego e recém-licenciados no desemprego. Entrei para as estatísticas em Setembro de 2005, depois de terminar o estágio pedagógico. Dificilmente me conformei com a minha situação (diga-se que olhar para as paredes não é um hobby muito interessante). Em Dezembro desse mesmo ano escrevi uma carta aberta ao primeiro-ministro e à ministra da educação agradecendo-lhe o facto de me estarem a pagar tão bem para não fazer nada, pese embora o facto de que o que eu desejava era estar a exercer a minha profissão que tanto amo. No entanto, nunca me senti bem neste quadro. Não me sentia bem para com o meu país e trabalhadores no activo. Queria TRABALHAR! Foi então que num acto de loucura enviei a minha candidatura espontânea para a Universidade de Bari (Itália), que figurava no site do Instituto Camões como uma das cátedras associadas. Candidatei-me como professora de Português para estrangeiros.
Pouco tempo depois, em Janeiro de 2006, sou contactada pela responsável pelo departamento de Língua Portuguesa da referida Universidade, que se mostrou interessada na minha contratação, pedindo-me, no entanto, cautelosamente, algum tempo de modo a verificar se, burocraticamente, a minha contratação seria possível em tão curto espaço de tempo. No final de Fevereiro sou chamada para me apresentar o mais rapidamente possível e começar a leccionar a 8 de Março. E eu fui! Porque queria trabalhar...
Antes de ir, solicitei à senhora doutora que me enviasse o meu contrato, ao que esta respondeu ainda não ser possível. Tratando-se de um ensino superior público não me preocupei... e fui... trabalhar...
Lá cheguei a Itália, a Bari, que imediatamente me apresentaram como terra da Máfia... Mas que me importava a Máfia? Eu queria era trabalhar!!
A primeira semana revelou-se logo muito “peculiar”. Andei a semana inteira atrás daquela que era a minha “chefe” para me resolver dois problemas importantes: 1) o horário de aulas e trabalho; 2) o contrato. Julguei que estava a perguntar pelo óbvio, mas as minhas demandas revelaram-se perguntas absurdas e sem resposta. O contrato foi sendo adiado de dia para dia (já começava a achar estranho); quanto ao horário nunca obtive resposta, diziam-me que o acordasse com as alunas e quando perguntava “Mas a que horas é a primeira aula?”, respondiam-me “de manhã”... Ora a manhã tem muitas horas... mas como diz a outra “Isso agora não interessa nada!”. E assim passou a primeira semana: com muitas dúvidas e nenhuma resposta...

8 Comments:

Blogger Soul, Heart, Mind said...

*Nota ao título:

Crónica inicialmente designada por "Crónicas de uma POrtuguesa em Terras de Itália", achei que este título se adequava melhor ao que vai sendo relatado...

4:55 PM  
Blogger Nórdico said...

faz lembrar kafka ... não ha uma estatua dele por lá ?

7:24 PM  
Blogger Soul, Heart, Mind said...

Em Bari? E será que os bareses sabem sequer quem é Kafka?...

12:00 AM  
Blogger Pseudo said...

Bem, isto até promete...tens é que continuar com a saga :)
E a vida, já voltou ao "normal" ou ainda há dúvidas?

9:50 PM  
Blogger tovarisch Khrushchyov said...

Gina querida...
Estás a querer candidatar-te ao Pulitzer? Infelizmente cá não há disso. O mais que temos são uns Pulidos, Valentes mas não dão prémios.

1:31 AM  
Blogger Soul, Heart, Mind said...

Querido Nikita,

se houver um reconhecimento público pelos meus "escritos" já fico feliz.
E também fico feliz se divulgarem esta história... Mais uma vez, adorei os links na nossa casita! hihihihi

3:46 PM  
Blogger tovarisch Khrushchyov said...

Gina querida...

Hoje em dia a Net tem destas coisas: o mail, o telefone e o local de "trabalho" da Toriello são públicos.

Estão lá para que não se pense que a história é ficção. Quem quiser até lhe pode mandar "cumprimentos", nem se põe o problema da Língua: a senhora "lê" português. Infelizmente a história é bem real.

Parece que a mentalidade ali para os lados de Bari não mudou muito desde o tempo do compadre Mussolini...

1:01 AM  
Blogger Soul, Heart, Mind said...

Para quem não entendeu o que se fala nos comentários, visitem http://www.sexkoz.blogspot.com

12:57 PM  

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