Crítica à crítica
( continuação )
Não pude evitar ao ler a crítica , de escrever a esclarecer o que no meu parecer parece ter sido a intenção clara do autor. É por demais evidente que faltou a esse Sr. Anónimo uma interpretação histórica do poema , talvez subjugada por uma ortodoxia poética , limitada por todas as convenções clássicas de métricas e afins tão importantes para as suas convicções. Faltou-lhe na sua visão cerrada e tão caracterristica dos classíssistas o enquadramento sócio-cultural derivado da presença lusitana nas antigas terras de Vera Cruz. Parece-me ser evidente a intenção do autor em mostrar essa vivência estranha à mentalidade europeia e expressa nesse caos poético que o crítico anónimo define como casual , sem entender a sua verdadeira dimensão , pois na minha opinião é um caos procurado , previsto , organizado , num vacúo encontrado , como quando os portuguses desembarcaram pela primeira vez no Brasil. A ausência de métrica é compensada pelo ritmo , onde a rima faz as vezes do batuque , ritmando o samba em que se torna todo o corpo do poema. Todo o conteúdo do poema alude não a uma lógica , mas a brados independentes , tal como os brados indígenas , diferentes de tribo para tribo , aqui compilados numa única voz que revela a dor , os anseios , e porque não tambem a comicidade deste povo que se criou numa miscelânea. Apela ao seu conhecimento e ao mesmo tempo demonstra um carinho puro , um amor incontornável , uma saudade sentida , como se de um Pai se tratasse , um Pai ausente , mas sempre interessado no seu regresso. Não concordo com o meu colega que atribui a este poema uma fraude , acho pelo contrário que se encontra aqui toda a genuidade de um sentimento luso perante um Brasil distante mas sempre acessível , tenho comigo a certeza de era esta a verdadeira aspiração e desejo do autor ao escrever o dito poema.
Ass : Anónimo 2
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