sábado, novembro 28, 2009

Sobredatado

Em Portugal não existem sobredotados. É um facto. Um indesmentível facto. Não há ningem neste país que possa alguma vez alcançar essa inatingível categoria de capacidade humana.
É impossível alguem neste País pôr em causa o institucionalizado divino Saber, doutrinado País fora por todas as nossas excelsas universidades, apenas e só por que possa eventualmente pensar que pensa um pouquinho mais além. Como se séculos de Doutos Professores, professos ás suas doutrinas e conhecimentos, ensinados de geração em geração, alguma vez na vida pudessem estar errados, e caso alguma vez essa impensável situação acontecesse, não fossem os próprios Doutos senhores do Saber, os primeiros a descobri-lo. Ser um sobredotado em Portugal é uma impossíbilidade. A ideia de aprendermos por nós próprios é uma declarada utopia. Mais. Um despeitado desrespeito por todos aqueles que por décadas se esforçam por imiscuir nos seus pupilos anos de ensinamentos, técnicas e axiomas que tanto trabalho lhes deram em aprender e desenvolver. Aqui não há espaço para os autodidactas. Há casos, é certo, de pessoas que aqui neste País não deram nem aprenderam nada e que depois emigrando para Países como os EUA ou Inglaterra se converteram num êxito, chegando mesmo a seresm rotulados de sobredotados. Mas isso são outros Países, como os EUA. Países ricos onde as condições de apoio e infraestruturas disponiveis para os seus são determinantes no seu sucesso. Aqui em Portugal só o dinheiro que seria preciso esbanjar nessas mariquices da investigação, de estudo, de teorizar por vezes conjuncturas completamente improváveis, com a consequência maior de abalar todo um Ensino Intitucional já devidamente creditado por anos de estavel Conhecimento, ensinado e acessível apenas a uns quantos favoritos, préviamente escolhidos e triados dos nossos mais dotados valores académicos seria um desperdício. Não temos efectivamente condições para sobredotados. Não podem existir sobredotados. Causaria o caos entre toda uma estrutura de pensamento e abriria um precedente maléfico em que qualquer um, sem que realizasse qualquer tipo de sacrificio ou esforço pessoal poderia aceder livremente a esse idílico estado de consagração e admiração que tantos, valorosos dotados, se esforçaram ingloricamente por alcançar. Lançaria assim de forma irrevogável a dúvida sobre o mérito, que como se sabe é a força motora de toda a sociedade, principalmente a nossa. Mérito que curiosamente são os próprios Países desenvolvidos os primeiros a dar, aqueles pretensos sobredotados aqui, que para lá se dirigiram em busca de uma oportunidade. Mas aí já não há o Mérito. Mérito para ser mérito tem que ser suado. E lá, as condições são outras. E o mais comum é ouvir-se depois dizer : " Pois sim, tambem eu com aqueles equipamentos todos fazia a mesma coisa ... " ou "Pudera ! Com a papinha toda feita ... Assim tambem eu! ". Pelo que apesar de lá fora serem reconhecidos como sobredotados, o que ajuda e muito estarem num País em que basta nascer para se ser naturalmente dotado, o que é evidentemente meio caminho andado para se ser sobredotado, para nós, e para a nossa realidade e a que o nosso País dispõe, não passam de sobredatados. Ou "has been". Do género : "Ahhh ... Quando cá estava e nas condições em que estava ... até que lhe dava valor ... agora assim ... com tantas facilidades ... até o meu filho de 6 anos o faz. ". Ou se ficam por cá e não atingem o potencial esperado : " Quando era novo ainda era irreverente ... Agora já deu o que tinha para dar."É um fenómeno conhecido como os sobredatados. Aqueles que fora alcançam esse patamar platónico da sobredotação mas que na realidade não passam de frustrados, uma vez que as suas realizações se baseiam apenas no valor das superetruturas que os suportam.
Em Portugal, País orgulhosamente ecléctico, justo, onde a noção de mérito pessoal, leia-se muito suor e pestanas queimadas, é um requisito obrigatório, não poderá haver nunca sobredotados. Quando um houver este terá, como consequência da sua manifesta superioridade, que logicamente terminar de vez com todas as dificuldades do País, como a fomee a Sida por exemplo, e prever tambem todas as intempéries que se avizinhem.
Já sabiamos que eramos um País com os dias contados, só faltava mesmo confirmar que somos e seremos todos no máximo uns meros sobredatados.

2 Comments:

Blogger Carina said...

Li este post intitulado “Sobredatado” e confesso que me provocou uma certa inquietação cerebral…
O nosso geograficamente pequeno Portugal vai-se tornando pequeno em espírito e em mérito porque os próprios Portugueses consideram-se em massa “sobredatados”! Esta posição parece-me exagerada e sou forçada a não concordar porque o pessimismo tem uma força tal que vai conseguindo dissimular os valores, os méritos, os sobredotados!
E vamos assim passando rapidamente do grande país, a grande pátria dos Descobrimentos, com todo o enaltecimento merecido por tão grandiosas façanhas, para o pequeno país de preguiça, de falta de estímulos, de sobredotados que se consideram sobredatados…
Aliás, para o intitulado fotógrafo, amante da arte, não fica muito bem essa posição “em Portugal não existem sobredotados” pois até alguns colegas instituíram um sítio com o nome SOBREDOTADO, cuja apresentação é “um site de Língua Portuguesa sobre Arte”.
E que eu não seja mal interpretada pois a partilha de opiniões é já qualquer resquício de sobredotação. Mais ainda Senhor Pedro, um blog, a vontade de comunicar, o não ter medo de publicar uma opinião sensível é um caminho para a sobredotação.
Proponho então um desafio: vamos ser Portugueses optimistas, vamos acreditar, vamos ser vivos e vamos dar ao nosso pequeno Portugal todo o mérito que Ele merece e vamos ser um país sobredotado e supra-datado!

10:40 AM  
Blogger Nórdico said...

Amén

4:57 PM  

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