quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Era uma vez ...

Quando somos pequenos tendemos a dois comportamentos distintos : ou guardamos tudo para nós com medo de represálias de um mundo que ainda não compreendemos ; ou ao invés , e pelo mesmo receio , disparamos as culpas por todos e por todo o lado.
O medo ou receio baseia-se sempre na incompreensão de um mundo que roda á nossa volta mas que nos é intangivel , quer por não estarmos preparados para essa mesma realidade , quer por não possuirmos mecanismos de comunicação que nos permitam decifrar esse mesmo ambiente , quer por mais uma série de motivos óbvios que obstam a que possamos tomar parte desse mesmo mundo.
A maioridade entendida como a idade legal para o limite de tempo razoavel para que qualquer individuo percepcione por si mesmo e desenvolva os seus proprios mecanismos de integração nesse mundo tão secular é ela mesma insuficiente para o dotar de maturidade.
E o que é a maturidade? A maturidade mais que tudo é a admissão incondicional da nossa quota-parte desse imenso processo de culpa ou responsabilidade que é a nossa vida. Mesmo que o integral desse mesmo ambiente ou realidade nos seja quase desconhecido é absolutamente indispensável a admissão dos nossos erros e da nossa responsabilidade. Só assim se cresce. Só assim há espaço a uma maturidade. Não é pela simples responsabilização de outros que se prova a inocência. A inocência é medida sim pela amplitude e grau da nossa culpa/responsabilidade. E é essa admissão que nos torna grandes ou pequenos , porque convenhamos meus caros , que aqui ninguem é santo.
Todos mas todos somos responsáveis pelo País e pela mentalidade que temos.
Que venha daí o Portugal dos "grandinhos" , que do dos pequeninhos já ando farto , e o dos grandes ainda está longe.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Entre inimigos

É o reverso da medalha. Há uns atrás o anuncio para a entrega de um oscar passava inexoravelmente por estas palavras : " And the winner is ... " , Nicole Kidman deixo-as escapar numa inocência que só a uma "Auzzie" se permite. De há uns tempos para cá, todo este pró-forma tem vindo a ser abandonado e substituido por um simples: " And the Oscar goes to ... " tudo para sublinhar que nestas ocasiões não há vencidos nem vencedores. Não foi no entanto o que se passou na categoria para melhor actor principal. Há alguns anos que não se via um equilibrio tão comprometido e respeitador. E sabia-se e muito bem que qualquer um que fosse o destinatário do galardão dali não sairia como vencedor mas sim como aquele que não foi derrotado. Era de facto a categoria negra. E qualquer veredicto resultaria sempre numa derrota. Numa não. Em várias. Forest Whitaker levou o oscar. Deram-lho a coerência , a previsibilidade , e a falta de coragem de contrariar a decisão dos globos de ouro e dos bafta e do premio do sindicato. Convenhamos que o contrário requeriria muita substancialidade. E Escolher entre um DiCaprio que para mim se esta a tornar no melhor actor contemporaneo e um Peter O'Toole cuja oitava nomeação sem premio comovia os seus pares pela sua injusta fatalidade era já de si muito dificil. Se juntarmos a tudo isto o brilhante desempenho de Will Smith num filme verdadeiramente inspirador chegamos á esperada conclusão de que não podia nunca nesta categoria haver um justo vencedor. Não poderia sequer haver um vencedor. Haveria sempre um não derrotado e aqui Whitaker levava a vantagem. A vantagem de ainda não ter sido derrotado até a noite dos Oscares. Era uma certeza intima que se sussurrava entre dentes. Whitaker levou a estatueta entre inimigos. Os inimigos porém não eram os seus pares, mas as fatalidades. E a fatalidade sobretodas de não poder sair dali derrotado.

Entre Amigos

Ontem e para grande júbilo da maioria dos convidados que enchiam o Kodak Thatre , Martin Scorsese foi finalmente distinguido e ao fim de 7 nomeações com o oscar para a melhor realização. Á sua espera, no palco, três dos seus maiores e mais velhos amigos, conferiam á festa o ambiente scorsesiano de "Tudo bons rapazes ". Era caso para dizer que se estava indubitavelmente "Entre amigos". A forma frenética embora natural em Scorsese com que subiu ao palanque para receber e agradecer o premio lembrou-me o DeNiro de "Táxi driver" e por momentos imaginei-o a apontar para a plateia enquanto disparava subrepticiamente as suas imortais deixas "Are you talking to me ? " Scorsese ganhara, finalmente ganhara, sem ir ao chão, como um autentico "Raging Bull" e para prova-lo minutos depois a academia voltaria a agracia-lo agora inderectamente com outro oscar, este para o melhor filme, este para calar aqueles diriam que Scorsese ganhara um oscar sim , mas pela carreira. Não. "The Departed" tambem não merecia isso. E se Babel não mereceu o fim ruinoso que teve, "The Departed" foi um justo vencedor. Um grande filme em quelquer dia e em qualquer parte do mundo. Pode não entrar nos anais do cinema, mas será sempre um grande filme. Como todos os filmes de Martin.

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Excertos ( um exercicio )

“ O vazio por pouco não me cegava. Ali no centro, ou no que poderia ser o centro se algum redor houvesse, sentava-me proscrito na teia ainda por cerzir. Um halo fétido cintilava na surdina. Os cinco sentidos difusos buscavam o seu albergue e eu, cúmplice fitava-os, ainda que ofuscado pelo torpor da cegueira.
Acordo. Que sonho estranho. Levanto-me rapidamente. Visto-me e saio com pressa. Não sei muito bem porque raio tenho pressa, mas neste mundo acelerado quem não tem pressa não é ninguém. A porta acaba de bater atrás de mim e eu acabo de me lembrar de que não tenho chave. Não faz mal. Chamo os bombeiros como da última vez. Enfrento as escadas. De súbito olho o corrimão e desafio-o para uma descida desgarrada. Mas não. Hoje não. É segunda-feira e ainda não foi encerado. Dois dentes a menos e uma radiografia de uma costela partida lembram-me e convencem-me que não é uma boa ideia descer por um corrimão por encerar. Sem alternativa, desço com todo o gás a escada em caracol. Desço com tanto gás que quando finalmente chego lá em baixo e paro para descansar já não me lembro se as acabo de descer ou se pelo contrário me preparo para as subir. Como sempre, recorro ao método clássico para resolver este tipo de situação: Moeda ao ar. Caras. A subida ganhou. Subo furiosamente as escadas, convicto de ser para isso que ali estou. Subo e … bato com o nariz na porta. Acabo de me lembrar de que não tenho chave. Merda. Afinal estava a descer.
Fecho o livro. Odeio estes autores simplistas que resumem a vida a uma série aleatória de acontecimentos banais. Subo aqui… desço ali … bahhh. Preciso de consistência, de sentido. Desprezo todos aqueles que brincam com as palavras como se nelas não houvesse nem propósito nem sentido. Não posso deixar que as rasguem, que as amputem do seu intrínseco significado. As palavras, as frases, implicam um raciocínio, uma filosofia , um sentido. Habita nelas algo de nós. Algo que lhes insuflamos. Alimentam-se de nós e nós delas com recíproco respeito e anuidade. “

- Juro-lhe Sr. Dr.. Foram estas as suas últimas palavras antes de morrer, tal e qual lhas acabo de contar.
(…)
- Mas qual homem qual quê Sr. Dr. ??? Era um papagaio.
(…)
- Sim … um papagaio! Apareceu-me cá em casa.
(…)
- Olhe Sr. Dr. não sei, talvez tivesse fugido de casa …
(…)
- Sei lá Sr. Dr.. Quantos motivos haverá para se fugir de casa??
(…)
- Sim … eu sei Sr. Dr. … Mas este era diferente. Veja lá que até cozinhava!?
(…)
- Não … não sei Sr. Dr. … não sei se fazia arroz de pato … mas fazia poemas… era também um poeta.
(…)
- Estou-lhe a dizer Sr. Dr.! Até me escreveu um poema e tudo! Quer que lho declame?


(…)
- Ora então cá vai :

0
1
1
1
0
1
1
0

Mas qual totobola qual quê Sr. Dr.!!!!! É um poema. Está escrito em linguagem binária … a linguagem dos computadores … a linguagem do futuro!
(…)
- Bom Sr. Dr. … isso de acreditar já é consigo, mas se não me acredita … vá levar no cú !

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

S.C.B

Seremos Campeões Brevemente.

O(s) cavalo(s) do Sócrates

O silogismo funciona para a politica como o cavalo para o xadrês. Não é linear, e por isso mesmo pelas suas caracteristicas voláteis funciona como um trunfo imprescendível nos dias de hoje. A política interna de sócrates tem funcionado á base disso. De cavalos. De cavalos de batalha, mas tambem de cavalos de troia.E sempre de cavalos silogisticos. O último desses cavalos foi o resultado do referendo á lei do aborto. A pergunta era já de si mesma um verdadeiro batalhão de cavalaria. A um passo em frente da pergunta a que correspondia a primeira parte que aludia á concordância ou não da penalização da IVG, seguiam-se dois passos ao lado com a consequente liberalização da sua práctica em clinicas devidamente autorizadas. Um outro cavalo de troia este das clinicas autorizadas que levarão inexoravelmente a mais outros passos ao lado.
Toda a estratégia subsequente ao plano tecnológico naufragou numa cavalgada "troiana" onde os zig-zag´s se interceptaram e onde os tropeços ainda hoje se fazem sentir.
Atente-se que nada tenho contra os cavalos silogisticos. Sou de opinião de que nada avança sem as suas contra-partidas. Mas há duas maneiras de os fazer jogar. Com um passo á frente e dois para o lado como é o exemplo do governo actual, ou com dois passos á frente e um para o lado como deveria ser para um suposto bem geral.
Como jogador que sem receio me defino gosto de apostar nos meus cavalos. E ainda não vi um cavalo de Socrates que merecesse a minha confiança para nele apostar.
Que tragam os puro-sangue.

Os Dalton


sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Enorme


sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Abortar ...

Demorei muito mas cheguei a uma conclusão. Parti do não para chegar ao sim , não que concorde inteiramente com ele, mas sim porque de nenhum outro modo poderei agir sem com isso concordar com aquilo que precisamente mais discordo ... Abortar. Confuso ? E ainda agora vai a procissão no adro. Não concordo com o aborto, sou completamente contra o aborto, mas votar não neste referendo é abortar com um País que se pretende adulto , maduro , crescido, grande em toda grandeza intelectual , espiritual e sobretudo social. Não quero pensar que vivo num País que se fazem leis com receio que os Portugueses não saibam como sem elas pensar ou sequer como se comportar. Não . Não é esse o Portugal dos pequeninos que quero. O Portugal das fadas , dos sonhos , do tudo esta bem e há sempre uma outra solução . Uma outra solução que nunca ninguem a pensa , que nunca ninguem a quis pensar. Uma outra solução que quando existe é sempre negada. Não. Perdão mas não. Perdão , porque sei que é errado , mas é tempo tambem de outras soluções. Podem nem ser as mais correctas, podem nem ser as mais justas , mas cabe sempre ao juizo de quem as toma as julgar, e com certeza que ajudará em muito ao nosso próprio amadurecimento. Até quase que aposto que se a convicção que vi nas frontes das pessoas que inquestionavelmente defendem o não, não me enganar , que arranjarão agora outro tipo de soluções. Mais justas se calhar. Mais correctas de certeza. E haverá mais opções . Mais esclarecimento . Mais discussão. No fundo haverá mais maturidade e é tudo que peço neste momento-maturidade. Não abortem o crescimento de um País que se quer maduro para as suas próprias decisões. Não abortem um País que ser quer mais responsavel que responsabilizavel. Não abortem um País que se quer livre. E por liberdade entendem-se as suas próprias e pessoais escolhas.